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Na mídia

Por que SP caminha para o fim do rodízio de veículos e trânsito deve piorar

publicado em 07/11/2025 11:14

Fonte: Uol
Imagine sair de casa em plena terça-feira, às 8h da manhã, em São Paulo, e encontrar ainda mais carros nas ruas do que o habitual. Parece impossível? Pois esse cenário pode se tornar realidade muito em breve. A cidade caminha, silenciosamente, para o fim prático do rodízio municipal de veículos, pelo menos para os carros novos. E, ironicamente, o que pode nos levar ao caos não é o aumento da poluição, mas justamente os avanços tecnológicos que prometiam combatê-la.

Criado em 1997 com o objetivo principal de reduzir os níveis de poluição atmosférica, o rodízio de veículos de São Paulo limitava a circulação de carros com determinados finais de placa em horários de pico. Ao longo do tempo, tornou-se também uma ferramenta de gestão do trânsito, uma das mais conhecidas do país. Só que hoje, quase três décadas depois, a regra está perdendo a força, e não por desobediência, mas por suas exceções.

A legislação municipal isenta do rodízio os veículos considerados “menos poluentes”: elétricos, movidos a hidrogênio, híbridos e híbridos leves. A intenção inicial era clara: incentivar a compra de tecnologias mais limpas. Mas, com a eletrificação da frota acelerando, a política virou uma armadilha.

Ano a ano, a média de lentidão registrada pela CET nos horários de pico vem se aproximando dos níveis de 2019, antes da pandemia, com quinta-feira liderando o ranking da lentidão semanal. Segundo a própria Companhia de Engenharia de Tráfego, já são 411.339 veículos cadastrados isentos ao rodízio, sendo 196.494 veículos híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio.

E o que está por vir deve acelerar ainda mais esse processo.

Montadoras apostam tudo nos híbridos

A Volkswagen anunciou que todos os seus futuros lançamentos no Brasil terão versões híbridas. A Renault e a Geely firmaram parceria para produção local de carros híbridos, e a Stellantis, dona de marcas como Fiat e Peugeot, já comercializa modelos com tecnologia híbrida leve no país.

É importante destacar: mesmo os híbridos leves, que economizam pouco combustível e não são tão “limpos” em relação aos plenos, estão isentos do rodízio. Isso significa que, nos próximos anos, praticamente todo carro novo que sair de uma concessionária poderá circular todos os dias da semana em qualquer lugar da cidade, sem restrição.

Como lembra o advogado André Morais Garcia, especialista em Direito Ambiental, a isenção fez sentido no início da transição tecnológica, mas agora virou distorção. “Embora os veículos elétricos e híbridos emitam menos gases de efeito estufa, eles não são ambientalmente neutros - continuam gerando ruído, desgastando o asfalto e os pneus, o que aumenta as partículas suspensas, além de demandarem maior consumo energético e manutenção urbana”.

Proconve L8

Outro fator que empurra a frota brasileira para o mundo dos híbridos é a nova fase do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), que entrou em vigor para carros leves em 2025 e será ainda mais rígido nos próximos anos.

Chamado de Proconve L8, o programa impõe limites de emissões tão apertados que, para cumpri-los, os fabricantes estão quase obrigados a adotar soluções híbridas mesmo em modelos de entrada.

Ou seja, mesmo que o consumidor não queira um híbrido, ele poderá acabar com um e, de quebra, com um carro isento do rodízio.

O trânsito vai piorar? Sim. E já está piorando

Se o objetivo do rodízio era reduzir o número de carros nos horários de pico, a tendência atual vai justamente na direção contrária.

Em 2019, por exemplo, os índices de obediência ao rodízio chegavam a 90% no período da manhã. Mas, com o crescimento dos veículos isentos, esse número perde relevância. Não porque as pessoas desobedecem, mas pelo fato de que cada vez mais carros simplesmente não precisam obedecer.

Na prática, isso aumenta o número de veículos nas ruas nos horários de maior movimento, sem qualquer contrapartida ambiental significativa. Como lembra Rafael Calabria, especialista em mobilidade urbana, o rodízio está congelado no tempo. “O impacto que ele causava já foi absorvido pela população. Ele virou uma política frágil e de pouca eficácia, tanto do ponto de vista ambiental quanto de mobilidade.”

Com os híbridos se tornando padrão na indústria, o rodízio deixará de existir para a maior parte dos carros novos. Isso cria um paradoxo: quanto mais limpa a frota, maior a circulação de veículos, e maior o congestionamento.

“Com o avanço acelerado da frota de veículos híbridos e elétricos, a tendência é que uma parcela crescente dos automóveis circule livremente, mesmo nos dias de rodízio”, explica o advogado André Morais Garcia. “Isso pode reduzir a eficácia da política pública e contribuir para o aumento do congestionamento nas vias, sobretudo em horários de pico.”

E o que fazer agora?

Especialistas apontam que o rodízio não pode mais ser tratado como uma ferramenta isolada. É preciso integrar políticas de restrição com medidas robustas de incentivo ao transporte público e à mobilidade ativa. Isso inclui: mais faixas exclusivas para ônibus; expansão de ciclovias e calçadas seguras; redução de vagas para carros em regiões centrais; e investimento real em transporte coletivo eficiente e acessível.

“Se você aplicar restrições hoje, com o transporte público nas condições precárias em que se encontra, vai acabar limitando a circulação de pessoas e atingindo especialmente a população de baixa renda”, afirma Calábria.

A crítica dele aponta para um problema estrutural: medidas como o rodízio só funcionam com transporte público de qualidade. Caso contrário, acabam penalizando justamente quem mais depende do carro por falta de alternativas viáveis. “A promoção e redistribuição do espaço viário é um ponto inicial para a mudança estrutural que a gente precisa”, complementa o especialista.

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